Chikki 101- Sobre Representação: Desenho como inscrição ontológica pública

Desenho como inscrição ontológica pública

I. A ação organiza-se a partir da coerência interna.
Participar num sistema de alternativas dadas é agir a partir de uma estrutura externa — não da própria consciência.

II. O pensamento não é delegável.
Nenhuma estrutura externa pode pensar no lugar da consciência humana. Não se pode delegar ao outro o exercício do nosso pensamento.

III. O boletim de voto é um dispositivo de enquadramento simbólico.
Qualquer inscrição no seu interior é traduzida nos termos do sistema que o produz.

IV. A ação política não se reduz a um momento.
A inscrição no mundo ocorre de forma contínua, por consequência da estrutura interna — não através de um calendário institucional.

V. A convocatória eleitoral visa a legitimação do próprio sistema que a emite.
Responder sem reorganizar a gramática da participação é confirmar a autoridade da forma dominante.

VI. O mais próximo de liberdade é a coerência entre pensamento, presença e ação.
Compactuar com a falsa sensação de escolha é perpetuar uma falsa sensação de democracia e de liberdade.

VII. Nenhuma linguagem partidária contém a singularidade moral não-categorizável. O ser em ação não se representa nem se organiza por categorias.
A presença não pode ser reduzida a categorias — inscreve-se por coerência.

VIII. A recusa de participação formal não configura ausência. Constitui presença, pensamento crítico e ação consequente.

IX. A inscrição no real não requer autorização. A ação não se legitima — realiza-se.

X. O pensamento não pode ser transferido sem perda de autoria. Não se pode delegar em ninguém o exercício de pensar.

XI. O sistema representativo sustenta-se na ficção de que todos participam.
Recusar essa ficção é reorganizar o campo político a partir da estrutura — e não da categorização.

SOBRE A ILUSÃO DE REPRESENTAÇÃO

1. O argumento “se todos votassem em determinada proposta, ela teria representação” parte da aceitação do sistema representativo como legítimo.

2. A representação implica delegação — e delegar o pensamento é paralisar ativamente o juízo.

3. A mudança não se opera escolhendo melhor dentro de uma determinada forma, mas recusando a forma como estrutura de decisão.

4. Mesmo quando formulado como crítica, o voto opera no interior da linguagem do dispositivo. A recusa total é a única ação exterior com potência para reorganizar o campo.

5. Só quando ninguém votar, o sistema perderá a legitimidade simbólica para afirmar que pensa por todos.

6. A reformulação torna-se possível não por adesão em massa — mas com a não-participação estrutural.

SOBRE O MODO DE OPERAR — MEDO, ESTRATÉGIA E MARGEM INTERIOR

1. Quem vota estrategicamente, vota por medo.
Vota para impedir, para evitar, para minimizar. Redução de dano, neste caso, é um gesto de defesa.

2. Defender-se é coordenar a ação em função do medo.
É reconhecer uma ameaça como real e ajustar a presença para minimizar o dano. A defesa não interrompe a lógica do sistema — confirma o seu poder.

3. Atacar é agir com o mesmo modo de operar.
É tentar anular o outro — e anular o outro é violência.
É perpetuar a mesma estrutura violenta — deslocando apenas o lugar do poder. Continua a operar por confronto, hierarquia e dominação.

4. Não me defendo porque isso seria agir pelo medo.
Não ataco porque isso seria também agir pelo medo — ao tentar anular o outro.
Anular o outro é violência.
Temos que estar atentos a estruturas que usam jogos de poder simbólico para dominar a consciência do outro.
Chikki Chikki- 2025 Página 31 de 49

5. O modo de operar é outro.
Margem interior — agir em conformidade com a consciência, e criar pensamento que ative a consciência do outro,
de forma a que essa possibilidade também exista nele.

6. A reformulação real não nasce da guerra simbólica, mas deste lugar que o sistema não controla nem traduz: a estrutura interna — margem interior.

NOTA- SOBRE AÇÃO, INSTITUIÇÃO E COERÊNCIA

A recusa do voto é ação política consequente.
A comunidade política só existe quando cada ser age a partir da própria consciência.
Participar num sistema que inscreve violência como possibilidade legítima é confirmar a sua estrutura de poder.

A minha presença institucional confirma esta posição.
Estou presente por consequência da coerência.
Inscrevo-me no espaço público- através da extrutura interna- para criar pensamento no real.

A — SOBRE O PARADOXO DA TOLERÂNCIA I. Sobre tolerar a violência

A estrutura representativa em vigor revelou-se disfuncional ao acomodar no seu interior forças políticas que comprometem a dignidade da vida.
A presença institucional de discursos fascistas não é uma divergência partidária— é a inscrição da violência como possibilidade legítima.

II. A recusa como resposta à dignidade da vida

O fascismo é um atentado à dignidade da vida.
Organiza-se pela exclusão, pela hierarquização da existência e pela normalização da violência como ferramenta política.
Tolerar a intolerância é compactuar com um atentado à dignidade da vida.
A abstenção, nestas condições, é recusa.
Recusa de legitimar um sistema que, no seu interior, inscreve violência

B — SOBRE CONSCIÊNCIA E O ATO DO OUTRO

O que aqui se formula não visa prescrever conduta.
Cada sujeito deve agir em conformidade e coerência com a própria estrutura. Influenciar o gesto político do outro seria assumir que há um modo certo de operar — e isso anularia o próprio lugar da consciência.

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