Chikki 101: Sobre Silenciamento, Anulação e Estruturas Externas de Apoio
Silenciamento, Anulação e Estruturas Externas de Apoio: Notas para uma Prática de Inscrição
1. Silenciamento: A Produção Social da Ausência
Silenciamento é uma posição que invoca a produção activa de ausência. Manter o que é desconfortável fora da linguagem é garantir a continuidade de padrões relacionais violentos e desiguais.
Esta produção de ausência opera em todas as escalas: nas relações pessoais, nos grupos sociais e nas instituições. A ausência de nomeação preserva a violência e protege o status quo.
Denunciar ou nomear uma relação de poder desequilibrada implica sempre um custo simbólico imediato: a perda de capital relacional no grupo. Mas implica também a possibilidade real de reconfiguração: o que estava inominado passa a ter lugar, e a inscrição no outro torna-se possível.
2. Anulação: O Mecanismo de Invisibilização do Sujeito
A anulação é um processo activo de esvaziar a humanidade do sujeito: retirar ao ser humano a sua capacidade de nomear e de ser reconhecido. Actua através de microagressões persistentes: desvalorização, minimização, desqualificação.
Este processo não afecta apenas a auto-imagem: inscreve-se no corpo. Reorganiza padrões neuronais associados à percepção de valor e de agência. A anulação é, por isso, uma forma de inscrição neurobiológica negativa que compromete a capacidade de agir.
Nomear a anulação não é apenas um acto simbólico: é uma tentativa concreta de reinscrição, visando reactivar a capacidade de agir, de existir e de transformar.
3. Estruturas Externas de Apoio: O Lugar da Validação e da Reinscrição
A ausência de estruturas externas de apoio — institucionais, relacionais ou simbólicas — não é neutra: condiciona o sujeito à repetição do trauma, ao retraimento e à resignação simbólica.
As estruturas externas funcionam como colunas de sustentação da identidade e da resistência. Sem estas colunas, o sujeito é condenado ao isolamento e perde a capacidade de reinscrição.
Criar ou aceder a estruturas externas de apoio é um acto de reinscrição: é o gesto que devolve ao sujeito a possibilidade de nomear, de existir e de transformar o seu lugar no mundo.
4. Nomear realidade como forma de Inscrição contra a anulação
A pedagogia como inscrição neurobiológica exige o reconhecimento de que cada acto educativo pode reforçar ou quebrar padrões de silenciamento e de anulação.
Nomear o que foi silenciado e criar espaços de validação não é um gesto opcional: é um acto moral fundamental, condição necessária para qualquer possibilidade de transformação real — neuronal e social.
5. A acção pedagógica
A acção pedagógica é, assim, uma inscrição constante: no campo social e no campo neuronal. É através desta dupla inscrição que se abrem possibilidades de reconfiguração, de resistência, a origem da autoridade pessoal e do verdadeiro capital relacional.