CHIKKI 101: Sobre Pensamento Gnosiológico na Prática
I. FUNDAMENTO
A presente formulação integra a margem interior desenvolvida a partir da prática contínua de inscrição na realidade.
Afirmo: não existe separação entre estrutura interna e o que inscrevemos no mundo.
A ação é pensamento porque decorre da coerência da estrutura interna — Uno.
Quando somos fiéis a essa coerência — o que pensamos, somos e como agimos — a consequência da nossa ação sobre nós manifesta-se pela estrutura externa: o mundo.
Cada decisão é manifestação dessa coerência operativa — margem interior — Uno.
A docência não é uma função instrumental. É um espaço de inscrição do mundo e de partilha estruturada do pensamento.
Educar é tornar o mundo inteligível.
Desenhar é inscrever pensamento.
Escrever é articular pensamento em linguagem — que, por si, já é inscrição.
Articular pensamento é desenho. Inscrever pensamento é desenho.
Toda a inscrição no mundo é desenho.
Educar é também desenho.
Nota: Porque é que a minha prática não é hermética?
Puffis, educação, as músicas produzidas no Ableton, Reels — são formas de desenho que podem ser inteligidas sem recorrer a uma linguagem escrita densa. A minha prática não exige mediação discursiva para ser inteligida.
II. ESTRUTURA GNOSIOLÓGICA APLICADA À PRÁTICA
A estrutura do conhecimento como percurso da experiência até à ação:
1. Estímulo sensorial
O sujeito recebe estímulos físicos. O estímulo é a base da atividade cognitiva.
2. Percepção
Os estímulos são organizados em imagens mentais. Este processo selciona e organiza a informação recebida pelos sentidos.
3. Formação de conceitos
As imagens mentais transformam-se em representações. O sujeito categoriza e nomeia os dados sensoriais.
4. Juízo
Os conceitos articulam-se entre si, formando juízos. A relação entre conceitos permite a produção de sentido. Através do juízo passamos da perceção para a compreensão.
Patamar Conceptual — Perceber (5–6)
5. Intenção cognitiva
O juízo orienta a vontade e define uma direção possível para a ação. A intenção orienta o pensamento.
6. Deliberar
A intenção é submetida a uma análise e escolha. Organizamos a ação futura articulando o conhecimento e a vontade.
Patamar Volitivo — Querer (7–9)
7. Ação consciente
A ação acontece com base na intenção. Acção manifesta o pensamento no real.
8. Consequência interna
A ação é o resultado do pensamento cognitivo e da decisão orientada para a intenção. O sujeito passar a ser. A acção torna-se consequência da manifestação da extrutura interna (do ser).
9. Presença
A Presença aqui é a capacidade de inscrever no mundo, a manifestação da consciência.
III. RESISTÊNCIA GNOSIOLÓGICA
A violência infiltra-se no percurso gnosiológico.
Insere-se entre a perceção e o juízo — impede a organização de sentido.
Violência:
Negar o pensamento gnosiológico.
Anular o outro.
Paralisar o juízo.
Resistir à violência é preservar a continuidade do percurso gnosiológico.
É manter a capacidade de relacionar, compreender, decidir e agir a partir de si.
Para isso, é preciso coerência com a estrutura interna.
IV. CONSEQUÊNCIA
O pensamento gnosiológico não é uma ferramenta para manter coerência — é consequência direta da mesma.
Quem mantém a capacidade de formar juízo e agir com intenção, mesmo sob tensão, permanece uno.
Não cede o lugar da sua estrutura interna.
Age em consonância com a margem interior.
Resiste à violência — mesmo quando a estrutura externa falha.
V. ESTRUTURA EXTERNA VS. ESTRUTURA INTERNA
A estrutura interna mantém-se coerente mesmo sem estrutura externa correspondente.
– Essa permanência é sustentada pela margem interior.
– A margem interior é o espaço de pensamento que permite agir em consonância com o ser.
Quando a estrutura externa não acompanha, instala-se tensão entre a estrutura interna (Uno) e a estrutura externa (mundo).
A estrutura externa falha porque o mundo está organizado para validar adaptação, não coerência.
– Reconhece função e categoriza com base nela.
– Exige resposta, não fidelidade ao ser.
Essa tensão, quando prolongada e sem resposta no real, é tortura.
– Tortura é a tensão estrutural entre coerência interna e estrutura externa.
– A estrutura interna permanece intacta, mas o seu desgaste decorre da ausência de sustentação externa.
Este é o custo objetivo de ser Uno:
coerência interna sem suporte simbólico externo.
VI. SOBRE O PARADOXO DO UNO
O sofrimento do sujeito Uno não decorre de incoerência, mas da coerência mantida num mundo que não tem estrutura para a suportar.
Esse desgaste só acontece na ausência de estrutura externa.
Com estrutura de apoio, o Uno não é torturado — é sustentado.
A estrutura externa falha não apesar da coerência interna do ser, mas por causa dela.
Paradoxo do Uno:
O ser sofre por ser.
Mas não sempre — apenas quando o mundo não tem estrutura para o que o ser é.
Nota metodológica:
Este ensaio adota uma metodologia autoetnográfica fenomenológica, situada na filosofia da ação e na ontologia. A escrita é inscrição consequente do Uno: ser e prática como forma de pensamento. Trata-se de uma dissertação não académica, estruturada a partir da margem interior, com rigor próprio e sem mediação institucional.