CHIKKI 101- Sobre Inteligir
Vunerabilidade como condição para inteligir
I. O acesso não acontece por observação
Estar diante não garante pensamento.
O que é visível pode não ser inteligido.
Só há acesso à experiência quando há margem interior.
II. Toda a gente pode inteligir
Inteligir é pensar da experiência para dentro.
É compreender de dentro.
A potência de inteligir é constitutiva do ser.
III. Condições para inteligir
1. Estar presente através dos sentidos
A assimilação dos sentidos exige estrutura interna — margem interior.
2. Não trair
Não traduzir.
Não forçar um sentido.
3. Vulnerabilidade
A vulnerabilidade não é falha.
É o que permite ver a falha.
É o que permite ver o outro.
É o que permite ver-nos.
É o que permite ver-nos no outro.
4. Consequência
Inteligir tem consequência.
O que é visto altera a forma como se vê.
O que se conhece muda a posição de onde se pensa.
Quem intelige não volta ao mesmo lugar.
IV. Margem interior
Margem interior é o espaço de consciência que permite pensar antes de agir.
Pensar utilizando os estágios:
1–4. Sentir (patamar sensorial): o estímulo é captado pelos sentidos, processado e fixado como imagem.
5–6. Perceber (patamar conceptual): a abstração e o juízo organizam a experiência.
7–9. Querer (patamar volitivo): o pensamento realiza-se na ação, quando a consciência se traduz em ação.
V. O pensamento é intransmissível
Pensar é um ato que só pode ser feito por quem o pensa.
É uma ação que parte de si e volta a si.
Exige consciência, decisão e responsabilidade.
VI: Afeto como condição da acção volitiva
Chegar ao patamar volitivo exige afeto.
É o vínculo com algo que importa que gera intenção.
A intenção nasce do compromisso com esse afeto.
É no afeto que o pensamento se compromete — e se realiza.
V. O modo Puffi
O modo Puffi é a única posição que não parte do medo.
O medo estrutura o condicionamento — o sujeito em modo de sobrevivência alienado de si.
O modo Puffi é forma de agir a partir da experiência sensível.
Concretiza-se na ação.
A ação:
– não anula o outro (modo de ataque)
– não se protege (modo de defesa)
Modo Puffi:
Não ataca nem se defende, porque isso implica um sistema de validação externo.
Não depende de validação externa.
Depende da coerência interior.
Cria um espaço no mundo a partir da coerência — do uno.
Responde à própria estrutura interna.
Nota metodológica:
Este ensaio adota uma metodologia autoetnográfica fenomenológica, situada na filosofia da ação e na ontologia. A inscrição parte da margem interior e estrutura-se a partir da experiência. O modo Puffi é descrito como ação consequente, não subordinada a sistemas de validação externa. Trata-se de uma dissertação não académica, com rigor próprio e sem mediação institucional.